sábado, 14 de março de 2009

A conciencia e a leitoa



Alguém sempre morre para que outros sobrevivam, essa é a lei mais primitiva do universo, bem antes do “olho por olho dente por dente”, e não estou falando de auto-sacrifício, um suspiro de altruísmo ortodoxo, nem do matar para não morrer desesperado da vida criminal ou de LOST. Eu falo da fúria desenfreada do animal que está no topo da cadeia alimentar, de seres humanos famintos por cadáveres de outras espécies, do instinto que promove a barbárie, resumindo... A fome.
Fique tranqüilo esse não é um texto ambientalista, daqueles vegetarianos irritantes fáceis de achar e de identificar por ai, estou aqui para contar uma história como sempre faço, e antes de qualquer coisa deixo bem claro que sou sim, um carnívoro assíduo e voraz que não descarta um bom rodízio, mas desta vez estou aqui para cuspir no prato em que como, para criticar essa maquina de sacrifícios infanto-juvenis de animais.
Assistindo esses dias a tv, como faço constantemente, presenciei uma propaganda de churrascaria anunciando com extrema naturalidade o prato principal das suas noites de quintas-feiras, nada mais do que picanha de novilha precoce, para quem não sabe do que se trata explico rapidamente, feto de vaca.
Animais também têm sentimentos, olhe para seu cachorro, ele te entende, ele sabe quando você esta triste, quando você esta alegre e quer brincar com ele. Sentimentos são iguais para todos, vocês já tentaram chegar perto de um bezerro em seus primeiros meses de vida? A mãe dele vai te fazer em pedaços, ou mais simples, tente pegar em pintinho de uma galinha. Mas estamos fazendo pior, tiramos o filho do ventre da vaca e o matamos, antes mesmo dele ter a oportunidade de saber o que é vida. Mas essa não é a história que eu quero contar, vamos á ela.
Um desses dias meu pai chegou em casa, e me avisou que seus amigos do trabalho viriam para comer uma leitoa, que um deles traria para eu preparar. Pois bem, passou algum tempo e o individuo apareceu em casa com uma leitoa congelada que não passava de três quilos, e respondendo a minha pergunta ele disse que ela deveria ter por volta de três meses de vida, e completou, naquela semana ele já havia matado cerca de oito leitoas como aquela. O violador dos direito da vida animal atende pelo nickname Zé, o que eu poderia esperar do Zé?
Mas o Zé me deu mais do que uma leitoa mirim para assar, me deu uma pequena perola folclórica, uma piada. Contava ele que limpando as varias leitoas que matou, acabou cortando sua mão, e uma vez no pronto socorro para dar pontos no corte, o médico perguntou: “Que corte profundo... o que você estava fazendo?” E ele com a graça que Deus lhe deu respondeu: “nessa hora eu tava cortando a mão, mas antes eu estava limpando leitoa”, muito engraçado o Zé.
Quem temperou e assou a leitoa foi minha irmã, eu não podia, ela lembrava a minha infância no sítio, agente tinha um bezerro lá, mansinho, passivo, tratava ele na boca e subia encima dele sem problemas. Um dia com uma marretada entre os olhos ele virou churrasco para quarenta pessoas no natal.
Diante de tantas lembranças e tantos pensamentos contraditórios em minha cabeça o final da história é o seguinte, a leitoa assada com pão e alface estava uma delicia, recomendo.

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